A psicanálise e os mitos da realização pessoal - II: realização pessoal - mito e mística / Personal achievement and/or realization of individuality

Os autores se propõem a demonstrar que existe um fenômeno, a nível de experiência individual, psicanaliticamente detectável, que pode ser chamado de 'realização pessoal', e um outro fenômeno, a nível de experiência grupal, talvez de interesse da antropologia social, caracterizado pelo moderno valor, com valência mítica, atribuído a uma performance, também chamada de 'realização pessoal'. Estes fenômenos são estudados através do conceito e da vivência de individualidade, num crescendo que é sinalizado pelos seguintes itens: I) A Subdita Realização Pessoal; II) A Dita Realização Pessoal; III) A Pessoal Realização Dita-autorial (AU)

A questão do só questionar / The question of merely questioning

Considerando alguns dos fatores decisivos à função obstáculo nas trajetórias de crescimento de psicanalistas e instituições de Psicanálise, o autor denuncia: a) algumas áreas de confusão dentro das versões sobre a realidade destas mesmas trajetórias; b) alguns interesses do establishment voltados ao manter e incrementar as denunciadas áreas de confusão; c) algumas impropriedades dos questionadores do establishment, como o uso do esquema referencial teórico da Psicanálise à interpretação das crises, em lugar de substanciais mudanças de estatutos nas instituições enfermas de psicanalitismo. Achando que a chamada 'crise da Psicanálise' deve ser tratada como um problema de condomínio, onde a interpretação dos movimentos emocionais é apenas a exibição de hábeis mentações, o autor propõe aos questionadores uma disciplina voltada à obtenção das transformações requeridas e oferece certos parâmetros, à criação desta atmosfera, sob a forma de trinta e quatro aforismos (AU)

As mentes e os inconscientes

Encontrando semelhanças nos processos mentais de quem formula versões sobre seu sofrimento, com os processos mentais de quem formula teorias sobre o sofrimento do outro, o autor aponta para as cosmovisões que, comuns aos dois casos, seriam geradoras de tais semelhanças, onde valores de nossa civilização obrigam à emergência de uma e outra versão como formulações complementares e igualmente imaginárias. Propondo uma ótica que aqui é chamada de metapsicanalítica, é revisto o conceito de mente encontrado na Psicanálise, como tantas outras versões sobre a realidade desnecessariamente obedientes à postulação sobre a mente de origem popular. Como forma de empregar a referida ótica metapsicanalítica, o autor examina, em separado, a crença explicitada e a crença não questionada, segundo a qual a mente tem um lugar no corpo, que recebe o nome de cabeça. O autor conclui que uma das tarefas da Psicanálise será lidar com um modelo sobre a mente que seja tão simples e tão abrangente que possa conter qualquer outro modelo sobre a mente que a mente puder construir (AU)

Duas introduções para dois debates

Título do 1.0 relato: Notas Sobre o Caráter e a Psicanálise. A partir da hipótese segundo a qual o conceito de caráter, em Psicanálise, formou-se para se criarem pontos de referência constantes ao reconhecimento de configurações fenomênicas de grande mobilidade e sujeitas a grandes transformações; considerando a conquista da visão psicanalítica segundo a qual a análise é da pessoa e não, como se acreditava, do sonho, do ato falho ou do caráter; lembrando que se, por definição, caráter é o que não muda - o autor propõe que o tema da mesa-redonda (Dificuldade na Análise do Caráter) seja entendido como a queixa de certos psicanalistas sobre algo visto como doença e que colide com suas intenções curativo-pedagógicas. Título do 2.0 relato: O Ato, o Fato e o Feito. A partir de um episódio do cotidiano, em que teorias científicas são usadas para compor um discurso, cuja função é ocultar a responsabilidade do teorizador, o autor aponta para um universo de aconteceres mentais em que se toma nítido: a) com sua mente, o homem chama de mente ao aparelho com que constrói ordenações que guardam mais ou menos compromisso com os fatos; b) as formulações que forem mais afastadas do senso comum e do comum sensorium constituem-se em produtos íntegros e peculiares que podem até ganhar identidade e, portanto, autonomia, dentro da mente; c) tais construtos, como seres vivos, chegam a ter capacidade de gerar outros construtos, seus filhos. Observando que desta autonomia e capacidade de reprodução é comum surgirem produtos que se voltam contra a informação sensorial e contra outras produções. mentais, o autor lembra que o conceito de possessão, oriundo das religiões, serve para aludir a dificuldades triviais em psicanálise, expressas, por exemplo, pelo fato de a interpretação ser dada à pessoa e sofrer rebatimento pela produção que possui a mesma pessoa (AU)

Poluição mental

Sob o título 'O Modelo Ecológico e Poluição Mental', Alter publica os três relatos introdutórios que serviram de base aos debates da mesa-redonda organizada pela Sede Brasília do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, dentro da 31ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em julho de 1978 (AU)

Sobre uma necessária metapsicanálise / On a necessary metapsychoanalysis

Considerando a freqüente indiscriminação entre: a) fazer psicanálise e falar sobre Psicanálise; b) fazer psicanálise e fazer psicoterapia; c) construir modelos teóricos e descobrir aspectos da realidade; d) pensar, raciocinar e catalogar - o autor mostra a necessidade de serem lançadas as bases para uma Metapsicanálise: uma sintaxe que seja instrumento hábil para a análise da Psicanálise. Especiais cuidados devem ser tomados nesta construção, de modo que não exista margem para a Psicanálise incorporar à sua linguagem a sintaxe metapsicanalítica, evitando-se, assim, o acontecido com a Metapsicologia, que foi absorvida pela Psicologia (AU)

Psiquismo e robotização / Psyche and robotization

Os autores, amparados no que se conhece sobre a construção, o funcionamento e a manipulação de computadores, convencionaram o que, neste trabalho, passaram a chamar de robotização do homem para, confrontando este fenômeno com o que se pretende produzir num encontro psicanalítico, se referirem à psicanálise como uma das possíveis tentativas de desrobotização do homem. Para esta tentativa, os autores enfatizam a importância de não se adotar o ponto de vista da lógica formal e da lógica simbólica (onde são estudados os princípios e leis para o pensamento; onde se prescinde de referência aos objetos) e chamam a atenção para o relevo do comparecimento não de uma teoria, mas de uma pessoa-analista, com uma atitude o mais possível despojada de conhecimento pretéritos, visando a criação de espaço para uma nova experiência com a pessoa-analisando - o que permitirá a formulação de hipóteses relativas a cada experiência assim vivida pela dupla. São feitas hipóteses sobre possíveis funções da robotização e da desrobotização, tanto a nível individual quanto a nível grupal. São feitas indagações dentro de um universo de especulações cujos extremos são: a) pode a psicanálise tornar-se um processo de robotização? b) pode um computador vir a sofrer algo como experiências emocionais? (AU)

Sobre um modo de conversar / About a mode of talking

Observando a maneira pela qual uma pessoa pretendeu usar seu contato com o analista (I - Traços Gerais); considerando sobre algumas crenças teorizadas que esta pessoa trouxe no implícito de seus relatos (II - As Teorias); examinando alguns aspectos deste encontro à luz da realidade (III - O Contato e a Transferência), o autor aponta o trabalho analítico como uma peculiar maneira de conversar, proposta pelo analista, onde a busca do conhecimento sobre a mente do analisando é mais importante que o conhecimento conseguido, disto resultando poucas interpretações - uma vez que estas somente são legítimas em momentos de rara elegância e simplicidade do entender a dois (IV - A Interpretação) (AU)

O papel de tornasol / The tornasol paper

Coletando opiniões de diversos estudiosos sobre o uso de sentimentos contratransferenciais como instrumento de trabalho em psicanálise. O autor destaca o pensamento de Bahia (segundo o qual a contratransferência é a identificação projetiva do paciente que teve êxito na realidade), propondo-se a demonstrar a validade de tal conceituação. Para isto, o autor vale-se da analogia entre as relações papel de tornasol x substância testada x químico analista e percepção do analista x paciente x analista. O uso da contratransferência é comparado com a perigosa degustação de substâncias desconhecidas e apontado como processo de pesquisa inspirado no sentimento de onipotência. Ao fim do trabalho são feitos comentários extraídos do debate acontecido durante a apresentação deste enfoque no IV Congresso Brasileiro de Psicanálise (AU)

Sobre o emprego da vivência psicanalítica no ensino da relação médico-paciente / Applied psychoanalysis: on the use of the method and experience of psychoanalysis in the teaching of the patient-doctor relationship

Discutindo a noção de papel de médico, sua institucionalização e sua padronização formalizada pelas faculdades de medicina, os autores estabelecem como objetivo deste trabalho mostrar como o método e a vivência psicanalítica lhes facultaram: a) compreender e criticar os métodos tradicionais de ensino sob o ponto de vista de suas implicações afetivas tanto na relação professor-aluno quanto ao nível do aprendizado; b) isolar e reunir, desses métodos, os elementos considerados ótimos para a construção de um novo modelo didático; c) aproveitar o 'Desempenho de Papéis' (role-playing) como técnica continente deste modelo; d) conduzir singularmente a prática deste modelo valendo-se, principalmente, do esquema referencial teórico da psicanálise e do conhecimento sobre eles mesmos que a análise lhes forneceu. São descritos os limites entre o Desempenho de Papéis e outras atividades como Aula, Seminário, Psicoterapia de Grupo e retrato um peculiar setting para sua condição. Os autores discutem os achados, e suas implicações, no contexto que os geraram abordando algumas dificuldades características da técnica assim trabalhada (AU)

Rejeição e filicídio (caso clínico) / Rejection and filicide: a clinical study

Dando prosseguimento às investigações sobre a desidratação por diarréia e vômitos em crianças que vivenciam rejeição materna, o autor apresenta e estuda um caso clínico onde se vêem, como em contraponto, os sintomas psíquicos e somáticos de uma mulher que passa a rejeitar os filhos que excedem a planificação de sua família, tudo culminado com a morte de duas crianças (AU)

"A doença aceitável" e "a doença sem nome" / "The acceptable illness" and "the nameless illness"

Através apresentação de dois casos, ambos considerados numa primeira etapa como cirúrgicos e, numa segunda etapa, encaminhados à psiquiatria, tentaremos demonstrar que o atendimento médico integral, eliminando a dicotomia psique-soma, pode evitar erros que tanto representam sofrimento para o paciente como frustração para o médico. O presente trabalho pretende mostrar que a preocupação de se dar um nome à doença mais visa a atitude intervencionista a êste nome ligada, como forma de lidar com a angústia do desconhecido, do que procedimentos reconhecivelmente médicos. A 'doença sem nome', que o paciente traz sob forma de vivências penosas, seria, na fantasia do médico, a que o espreitaria para um 'contágio perigoso' (AU)

Sobre uma amputação

É relatado um caso de diabete com miroangiopatia e neuropatia que provocaram, respectivamente, gangrena com posterior infecção (Klebsiella) e mal-perfurante nos membros inferiores, sendo indicada a amputação da perna direita. O caso é também encaminhado à Psiquiatria visando-se a psicoterapia de apoio. São estudados aspectos biográficos da paciente, onde o autor pretende encontrar coerência entre o local das lesões e as representações psíquicas ligadas a conflitos. Sem se ater à possível psicogênese da diabete, que explicaria de maneira global todo o processo como de 'somatização de angústias', o trabalho enfoca a utilização da doença pela personalidade mal desenvolvida, concluindo que neste e, provavelmente em outros casos, o termo 'organoneurose' é insuficiente para caracterizar uma patológica relação mundo-soma-psiquê. É ensaiada a delimitação de um conceito, organopsicose, onde a impossibilidade da somatização implicaria em desintegração da personalidade (AU)

Contribuição à análise da emoção através do estudo da desidratação em crianças

Relacionado um determinado síndrome a um desvio nas relações objetais da criança, tentando estabelecer sua etiologia por observações pediátricas e dados de pesquisadores (estudiosos do mesmo quadro nos limites organicistas), achamos que, entre os 0-12 meses, 'diarréia e vômitos', tendo como conseqüência a desidratação, constituem, principalmente, resposta emocional à rejeição materna. Mostramos que a criança, como qualquer outro 'ser', comporta-se também com seu 'estado somático'; que certas freqüentes desidratações, por distúrbios gastrointestinais, representam, apenas, um fracasso, temporário ou permanente, e no relacionamento de um bebê com o seu ambiente; que nesses casos, é necessário, antes de mais nada, repor o organismo das quantidades adequadas de água, eletrólitos e amor (AU)